As vendas de gasolina engataram marcha a ré entre janeiro e julho no Rio Grande do Sul. Em relação a igual período do ano passado, o volume caiu 4,8%, para 1,97 bilhão de litros, aponta a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A marca é a menor para o intervalo desde 2016, quando 1,95 bilhão de litros foram comercializados no Estado.
O levantamento contempla as vendas realizadas pelas distribuidoras aos postos. A exemplo do Rio Grande do Sul, os negócios no país também ficaram no vermelho. De janeiro a julho, as vendas nacionais chegaram a 22,72 bilhões de litros, queda de 13% em relação a 2017. O volume é o menor para os primeiros setes meses do ano no Brasil desde 2012, quando 22,34 bilhões de litros foram repassados para as bombas.
Além da greve dos caminhoneiros, que provocou desabastecimento em maio, os sucessivos reajustes nos preços dos combustíveis pela Petrobras estão relacionados ao recuo no consumo, tanto no Estado quanto no Brasil, conforme analistas. Em julho, o valor médio da gasolina nas bombas gaúchas foi de R$ 4,749. Com isso, a alta acumulada nos sete primeiros meses alcançou 11,1% – em dezembro, o preço estava em R$ 4,273. No país, o avanço médio no período foi de 9,7%.
– Com a crise econômica, o consumidor ficou mais seletivo em relação ao gastos. É natural que ele corte o consumo de combustíveis em momentos de alta no preço, passando a usar mais o transporte coletivo ou aplicativos de transporte individual – sublinha o diretor da consultoria ES Petro, Edson Silva.
O levantamento da ANP ainda mostra que o etanol, cujo valor é inferior ao da gasolina, vem ganhando espaço no mercado. No Brasil, a alta nas vendas do produto alcançou 40,5% entre janeiro e julho, chegando a 9,69 bilhões de litros. Segundo analistas, a maior procura pelo derivado da cana-de-açúcar é outro fator que ajuda a explicar a maior redução na demanda por gasolina no país. No Estado, o crescimento do etanol no período chegou a 36,1%, para 36,20 milhões de litros.
Apesar disso, Silva menciona que o avanço não pode ser apontado como responsável pela queda na comercialização de gasolina dentro do Rio Grande do Sul, ao contrário do que ocorre no Brasil. A avaliação está ancorada no fato de o consumo do derivado de cana-de-açúcar entre os gaúchos ainda ser considerado "muito pequeno", pontua o analista.
Preço do etanol no RS não compensa troca
Conforme a ANP, as vendas desse combustível no Estado responderam por apenas 0,37% do total comercializado pelas distribuidoras brasileiras entre janeiro e julho. Todo o etanol consumido no Rio Grande do Sul é importado de locais como Paraná e São Paulo. Os maiores custos logísticos respingam no valor cobrado nas bombas, que fica mais caro.
– O Estado consome pouco, e o preço não compensa a troca – frisa Roberto Tonietto, presidente do Sindisul, que representa as distribuidoras gaúchas.
Especialistas afirmam que, para o consumidor, vale a pena optar pelo etanol quando custa até 70% do valor da gasolina. A análise leva em conta que o rendimento do derivado da cana é inferior ao do combustível fóssil. Ou seja, para percorrer a mesma distância, a quantidade de litros necessária será maior do que a de gasolina.
Em julho, o preço médio do etanol nas bombas gaúchas chegou a R$ 4,034, o mais alto do país. A marca representava 84,9% do valor da gasolina à época (R$ 4,749). No Brasil, no mesmo período, o etanol custava, em média, R$ 2,785. O preço correspondia a 62% do cobrado pela gasolina (R$ 4,492) no mês.
Cenário no Exterior deve manter pressão nas bombas
Os constantes reajustes nos preços dos combustíveis foram aditivados no país a partir de julho de 2017, quando a atual política de preços da Petrobras entrou em vigor. Com a medida, a estatal afirma alinhar os valores àqueles cobrados no mercado internacional, levando em consideração a variação no barril de petróleo, calculada em dólares.
Diante da polêmica provocada pelas correções quase diárias, a petrolífera anunciou no começo deste mês a criação do mecanismo de hedge (proteção). A ação tenta diminuir a volatilidade dos preços.
"A companhia entende ser importante conciliar seus interesses empresariais com as demandas de seus clientes e agentes de mercado em geral. Sem abrir mão da paridade dos preços internacionais, o mecanismo de hedge, a ser aplicado por não mais do que 15 dias, permitirá à empresa obter um resultado financeiro equivalente ao que alcança com a prática de reajustes diários", declarou a Petrobras, em nota, após o anúncio.
Apesar da busca da estatal por maior estabilidade, a pesquisadora Fernanda Delgado, da FGV Energia, frisa que o cenário internacional ainda seguirá com peso sobre os valores cobrados no país:
– O hedge pode espaçar os reajustes. Mas sensibilidades no mercado externo ainda terão peso nas bombas daqui. A tendência no cenário internacional é de elevação nos preços. Isso significa que as notícias não são boas para o consumidor no país.
Vice-presidente do Sulpetro, que representa os postos no Estado, Gilson Becker projeta que as vendas de gasolina devem fechar 2018 em baixa. Para Becker, o dólar e o preço de petróleo em alta no mercado internacional tendem a represar o consumo.
– A queda nos primeiros meses do ano já era prevista e deve seguir até o final do ano. A retomada das vendas dependerá, além dos preços, de a economia voltar a girar. Isso dará novo ânimo, mas levará tempo – comenta o vice-presidente.