Antes do clássico, Renato Portaluppi havia provocado. Orgulhava-se do retrospecto de seu time em mata-mata e dizia esperar para ver como o adversário enfrentaria este tipo de situação. Na tarde de calor sufocante na Arena, o discurso do treinador converteu-se em prática, o Grêmio ganhou por 3 a 0 de um frágil Inter e pode perder por dois gols de diferença para ir às semifinais do Gauchão. Para reverter o quadro dramático, o time de Odair Hellmann, que desmoronou neste domingo, precisará vencer no Beira-Rio, quarta-feira (21), por quatro gols de diferença. Algo bem próximo de um milagre, consideradas as diferenças entre os dois times.
Para uma equipe que, esperava-se, fosse explorar os contra-ataques, o Inter surpreendeu por sua postura inicial. Tanto que, já a dois minutos, teve uma clara chance de marcar. D’Alessandro bateu falta da esquerda e Dourado, pulando mais alto do que Jailson, cabeceou para defesa difícil de Grohe.
Surpreendido por uma marcação alta, que em tudo lembrava a do segundo tempo do clássico de uma semana antes, no Beira-Rio, o Grêmio enfrentava dificuldades de penetração. Optava por passes laterais, em busca de uma eventual falha defensiva. O que não acontecia pela firmeza de Dourado na frente da área colorada. Era a partir do volante que o Inter se organizava, em jogadas puxadas por Patrick e Edenilson.
Restavam, ao Grêmio, os chutes de longe, como o de Everton, aos seis minutos. Depois de partir da esquerda para o meio, ele ganhou em velocidade de Gabriel Dias, mas bateu muito alto. Quando tentava organizar-se pelo meio, o time errava passes ou via Jael ser contido pelos zagueiros.
Renato, então, passou a concentrar forças pelo lado direito. Léo Moura virou o jogador mais acionado e criou uma disputa particular com D’Alessandro, transformado em marcador. Aos 13 minutos, o lateral recuou a Maicon, que bateu errado. Aos 17, Léo Moura foi ao fundo e cruzou para Jael, que cabeceou sem força.
Ao Inter, que fará o jogo de volta em casa, o panorama interessava. E quase ficou melhor aos 21 minutos. Em cruzamento de Edenilson, Patrick cabeceou de forma certeira, para nova defesa salvadora de Grohe.
Bastou, porém, uma jogada bem articulada para que o Grêmio fizesse seu gol. Aos 47, Maicon deu a Luan, que abriu na direita a Ramiro. Sem tempo para que a defesa do Inter reagisse, Ramiro serviu a Everton, que empurrou para a rede e fez 1 a 0. Um gol como muitos que o time havia marcado em 2017, nascido da paciência de seus jogadores em encontrarem o melhor espaço e da qualidade na troca de passes e finalização.
O Inter pareceu ter voltado atordoado para o segundo tempo. Viu sua marcação desencaixar e escapou de levar gols em chutes de Ramiro e Jailson logo nos primeiros minutos. Ao Grêmio sobrava qualidade na troca de passes e rapidez nas investidas com Everton. Aos 11, foi a vez de Lomba salvar em cabeceio de Geromel.
A entrada de Arthur no lugar de Maicon, aos 13, abriu a perspectiva de um crescimento ainda maior do Grêmio. Odair respondeu com Rossi, em busca da agressividade que faltava a seu ataque. Mas quem poderia esperar que o contestado Jael protagonizasse, em seguida, o lance da tarde e talvez de sua carreira? A 17 minutos, ele cobrou falta com absurda precisão e acertou o ângulo de Lomba. O Grêmio chegava a 2 a 0 e abria caminho para as semifinais do Gauchão.
Não faltou força ao Inter para tentar reagir. A carência foi mesmo de capacidade. Na única investida, Nico López projetou-se pela esquerda, mas foi atrapalhado por Kannemann no momento do chute.
A tarde ainda reservava muitas emoções para a torcida do Grêmio. Aos 31 minutos, após Jael desviar de cabeça, Arthur avançou área adentro e, na saída de Lomba, fez 3 a 0.
Até o fim do jogo, a dúvida que pairava sobre a Arena era se um novo 5 a 0 poderia ser construído. Na chance mais clara do Inter, em arremate de Dourado, Grohe fez outra defesa consagradora e viu seu nome ser cantado por toda a Arena.
Foi o último ato de uma nova tarde feliz para a torcida do Grêmio.