Horas depois receber do Supremo Tribunal Federal (STF) a permissão para cumprir prisão domiciliar, a irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) Andrea Neves deixou o Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, Minas Gerais, na madrugada desta quinta-feira (22), com uso de tornozeleira eletrônica e foi para casa.
Além de Andrea, o STF também colocou em prisão domiciliar Frederico Pacheco, primo do parlamentar, e Mendherson Souza Lima, ex-assessor de Perrella. As decisões aliviam a pressão de familiares para que os dois tentem acordo de delação premiada.
Já o pedido de prisão de Aécio, feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR), e seu recurso para retomar o mandato devem ser apreciados na próxima terça-feira. A defesa do parlamentar quer levar o caso ao plenário da Corte.
Andrea, Frederico e Mendherson são investigados junto com Aécio por suposta prática de corrupção, organização criminosa e embaraço às investigações. Eles já foram denunciados e estavam na cadeia desde o último dia 18 de maio.
Além do recolhimento em casa e do monitoramento eletrônico, o trio ficará proibido de manter contato entre si e de ausentar-se do país sem autorização judicial.
Presa preventivamente na Operação Patmos, Andrea Neves foi denunciada pela suposta prática de corrupção. Em fevereiro, ela pediu ao empresário Joesley Batista R$ 2 milhões, dinheiro que foi repassado depois em malas de dinheiro ao primo Frederico Pacheco, a quem coube transportar o dinheiro de São Paulo a Minas Gerais, entregue depois a Mendherson Souza Lima.
A defesa de Andrea diz que ela pediu o dinheiro para bancar a defesa de Aécio Neves na Lava-Jato e que foi ao encontro de Joesley para tentar vender um apartamento de R$ 40 milhões no Rio de Janeiro.
Com a irmã em casa, tucanos avaliam que Aécio, apeado da presidência do PSDB, ganha fôlego. O partido articula com o Planalto a blindagem para evitar a cassação do senador
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AS PEÇAS DO ESQUEMA
- Aécio Neves
O senador afastado pediu R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista com a justificativa de que precisava pagar despesas com advogados em razão de processos judiciais. A conversa foi gravada pelo dono da JBS e a entrega do dinheiro, em etapas e em malas de R$ 500 mil cada vez, foi filmada em uma ação organizada com a Polícia Federal. No diálogo, Aécio combina com Joesley que a entrega deveria ser feita entre duas pessoas de confiança de ambos — os indicados foram Frederico Pacheco, pelo tucano, e Ricardo Saud, pelo empresário. A defesa alega que o dinheiro seria um "empréstimo entre amigos".
- Andréa Neves
Braço direito do irmão, o senador afastado Aécio Neves, teria sido responsável pela primeira abordagem ao empresário Joesley Batista, da JBS, por telefone e WhatsApp para solicitação de ajuda financeira. A jornalista sempre foi figura relevante nas campanhas e gestões do tucano no governo de Minas Gerais. Segundo a defesa, Andréa nunca participou de questões financeiras das disputas eleitorais, como arrecadação de recursos. Em depoimento à Polícia Federal, ela ficou em silêncio. Uma das alegações de seus advogados é de que irmão seria o responsável pelos eventuais crimes investigados. Foi presa no dia 18 de maio.
- Frederico Pacheco
Primo do senador afastado Aécio Neves, foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, executivo da JBS. O dinheiro seria parte do pagamento de R$ 2 milhões acertado entre o tucano e o empresário Joesley Batista. Os valores foram repassados depois a Mendherson Souza Lima, assessor parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). Há uma semana, a defesa de Fred fez um depósito judicial de R$ 1,52 milhão alegando que seria parte do dinheiro recebido da JBS — outros R$ 480 mil foram apreendidos na casa da sogra de Mendherson. Foi preso no dia 18 de maio.
- Mendherson Souza Lima
Assessor parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG), foi o destinatário dos R$ 2 milhões recebidos por Frederico Pacheco da JBS a pedido de Aécio Neves e quem levou o dinheiro de carro de São Paulo a Belo Horizonte. Na casa de sua sogra foram apreendidos R$ 480 mil pela Polícia Federal. Segundo a Procuradoria-Geral da República, os recursos foram parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, do filho de Perrella, Gustavo. O senador peemedebista nega ter recebido recursos da JBS. Mendherson também foi preso em 18 de maio.